quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Sobre nós, os sérios...




Do Nietzsche trágico ao Foucault ético:
sobre a estética da existência
e uma ética para docência*

Júlia Siqueira da Rocha**

Lendo o texto citado acima de Luciana Grupelli Loponte, a primeira boa surpresa é a forma lúcida como a autora casa estes dois pensadores, seu ponto de intersecção está nos estudos que ambos fazem das possibilidades do humano em reinventar-se.

Para tanto os autores são categóricos, é necessário rever o lugar do humano sério, da ciência na soberania da razão, pois a vida é perspectivismo e erro.O humano é a encarnação da dissonância. O mundo que é justificado esteticamente é desarmônico, portanto não sejamos tão sérios, exijamos a estética: trágica, dissonante embriagada pela música dionisíaca.

Homens sérios e sóbrios, Nietzsche os convoca a uma serena e artística distância de si mesmos. Necessitamos de toda arte, flutuante, dançante, zombeteira, infantil e venturosa, para não perdermos a liberdade de pairar acima das coisas, que o nosso ideal exige de nós.

Não podemos aprender com os artistas esta arte de se por em cena por si mesmo? Não podemos ser poetas de nossa vida? Buscar a ASKÈSIS de Foucault e inventar uma maneira de ser ainda provável, não uma askési individual, narcísica ou superficial, mas uma askési que entenda o cuidado de si sempre na conexão com o cuidado do outro.

Em todo estudo de Foucault sobre poder emerge a resistência e a liberdade como possibilidade, assim pensar a função docente na perspectiva estética é pensar na docência artística, cujo fim felizmente não se atinge, uma docência baseada na invenção de si mesmo e não na autodescoberta; alimentada pela relação com os outros e vivida como prática de liberdade. Incorporar o pensamento-artista apolíneo e dionisíaco para sair das crenças iluministas de verdade e reinventar a educação e a docência.

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* Luciana Grupelli Loponte é professora adjunta da faculdade de educação da Universidade Federal do Rio Grande do SUl. É Mestre em Educação (UNICAMP, 1998) e Doutora em Educação (UFRGS, 2005). Realiza pesquisas na área de formação docente, ensino de arte e gênero. privilegia em suas pesquisas autores como Michel Foucault, Friedrich Nietzsche e aportes teóricos dos estudos Feministas, tendo artigos publicados sobre estas temáticas.

Livro citado: LOPONTE, Luciana Gruppelli. Do Nietzsche trágico ao Foucault ético: sobre estética da existência e uma ética para docência. Educação & Realidade, Porto Alegre: Faculdade de Educação UFRGS, v. 28, n. 2, p. 69-82, jul./dez. 2003.

Resumo em:
http://www.ufrgs.br/edu_realidade/imagens/sum%C3%A1rio,%20resumos,%20e%20abstracts-28_2.pmd.pdf


Leia também de Luciana G. Loponte:  Arte e metáforas contemporâneas para pensar infância e educação. Disponível em:

Foto: Pablo Picasso
** Júlia Siqueira da Rocha é Pedagoga, mestranda do PPGE/UFSC. reflexões apresentadas em seminário da disciplina Teorias da Educação (Profa. Lúcia S. Hardt).



Enviado por Júlia Siqueira

Um comentário:

Roberto Warken disse...

Muito bom o seu artigo! Está difícil SER num mundo onde a EDUCAÇÃO é pensada de forma limitada e confusa com relação a ENSINAR. Além disso, o que dizer dos currículos escolares, quais as fontes onde bebemos sobre o conteúdo que ensinamos quais doutrinas encharcam estes agentes, circunscrevem-nos, limitam-nos ou os libertam através de uma mediação para a emancipação. Parabéns!