Um encontro inesperado e insólito:
dos abismos da existência às ressonâncias
do espírito livre
Lúcia Schneider Hard*
É preciso arranhar e saber o que fazer quando somos arranhados.
A vida aérea do poeta não é uma fuga para longe da terra, mas uma ofensiva contra o céu já definido, horizontalmente concebido.
A vida aérea tem um tempero do esquecimento, uma vontade de desembaraçamento do passado e da tradição para poder pensar e imaginar o que ainda não está posto, para fazer girar os valores e reconfigurar as práticas.
Imaginemos a República de Platão inaugurada. Pronta para se viver e aberta para todos os cidadãos. Seria a hora de pôr à prova sua concepção de cidade e de convivência. Aberta recebe todo e qualquer ser humano, mas eis que chega alguém inesperado. Um sujeito não concebido pela República inventada mas que, independente disso, imagina-se que possa ser resgatado e devolvido para a cidade para então habitá-la plenamente.
Ocorre que a entrada desse sujeito não será tão tranqüila e uma longa e turbulenta interação começa a ser desencadeada. Esse texto ainda que construído numa dimensão ficcional imagina dividir com o leitor embates possíveis, cotidianos, portanto reais que nos atravessam, tocam-nos e derrubam-nos em vários contextos familiares, institucionais, profissionais, políticos.
Zaratustra, o sujeito inesperado, desce a montanha, onde estava isolado por opção e resolve voltar ao convívio coletivo. Cruza com a República de Platão e decide entrar e instalar-se. De imediato estranha as conversas que escuta na cidade. Em quase todo lugar, desde as falas mais corriqueiras até aquelas mais oficiais e protocolares, inexiste praticamente a conjugação do verbo no presente, pois os diálogos insistem com o futuro e o passado. Os habitantes do lugar falam do que não fizeram ainda na cidade e do que deverá ser feito. Dificilmente ouve-se um relato do vivido. Nesse insistente passado e futuro aparece um conteúdo sempre recorrente: o sensível e o inteligível. O novo habitante não entende muito bem do que se trata, mas parece que essas duas coisas não pertencem a um mesmo corpo, o que à primeira vista parece impossível. Mas todos estão convencidos de que um desses lugares é preferencial e de que é preciso caminhar nessa direção.
Texto completo disponível em:
http://www.anped.org.br/reunioes/32ra/arquivos/trabalhos/GT17-5391--Res.pdf* Lúcia Schneider Hard é professora da Universidade Federal de Santa Catarina. Atua na Pedagogia com a disciplina- Fundamentos Filosóficos da Educação II. Na Pós-graduação ministra a disciplina – Teorias da Educação. Tem experiência na área de formação de professores e na educação à distância. Leia outro artigo da professora, "Bachelard e suas possibilidades de reflexão" em:
Foto: Zaratustra, segundo a Wikipedia. Detalhe de "A Escola de Atenas" (1509/10, 500x700 cm.) de Rafael Sanzio (1483/1520). Fonte:
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